Uma versão deste artigo foi publicada originalmente no Brazil’s Best Counsel Guide.
Os avanços tecnológicos, incluindo a inteligência artificial, levantam questões fundamentais para investigações de fraude. Em especial, qual deve ser o papel da experiência humana tradicional? O caminho mais sensato é o equilíbrio, sem abrir mão dos métodos convencionais nem depender excessivamente deles em detrimento da inovação. O ideal é uma colaboração entre ambos.
Iluminando os caminhos: o papel da análise de dados
Os dados financeiros contêm tanto informações valiosas para os negócios quanto indícios de irregularidades que exigem uma análise contábil forense minuciosa. Métodos tradicionais, como a revisão de documentos e a análise de transações, continuam sendo relevantes, mas novas ferramentas são essenciais no cenário digital atual. A análise de dados se tornou um recurso poderoso, permitindo que contadores forenses identifiquem fraudes financeiras com precisão e eficiência sem precedentes.
Comparar a revisão manual de extensos registros financeiros com o uso de análise de dados é como comparar o uso de lanternas a holofotes de alta potência. Essa é a diferença fundamental entre a contabilidade forense tradicional e a baseada em dados. Algoritmos vasculham grandes volumes de informações, identificando padrões de gastos anômalos, transações suspeitas e conexões ocultas entre entidades que, pelos métodos convencionais, poderiam passar despercebidas.
No entanto, nem todas as empresas têm acesso a grandes volumes de dados estruturados. Pequenos negócios ou organizações em economias em desenvolvimento podem ter um cenário investigativo mais restrito. Nesses casos, estratégias criativas de coleta de dados, entrevistas, análise de documentos e o uso de informações externas desempenham um papel crucial.
A análise qualitativa—examinar registros existentes em busca de inconsistências e sinais de alerta—é inestimável em ambientes com poucos dados e, muitas vezes, oferece um ponto de partida sólido. Em alguns casos, a colaboração com contadores forenses em regiões onde há acesso a ferramentas mais sofisticadas também pode trazer insights valiosos.
Contadores forenses combinam dados disponíveis com uma análise qualitativa detalhada, construindo uma narrativa convincente mesmo quando há poucas evidências quantitativas. Intuição, experiência e pensamento crítico continuam sendo diferenciais essenciais para navegar nas complexidades das investigações financeiras, indo além do que os algoritmos podem alcançar.
Tecnologia e expertise: uma parceria essencial
Investigações eficazes de fraude dependem da colaboração entre contadores forenses experientes e analistas de dados especializados. O contador, com profundo conhecimento sobre estruturas financeiras e esquemas fraudulentos, identifica riscos e potenciais irregularidades. O analista de dados, com sua expertise técnica, transforma dados brutos em insights estratégicos, refinando continuamente os algoritmos para aprimorar a detecção de fraudes. Essa parceria dinâmica cria a base para investigações mais completas e proativas.
A contabilidade forense evoluiu. O método tradicional de examinar centenas de transações está sendo substituído por uma abordagem mais estratégica. Em vez de testar um grande volume de transações logo de início, os contadores forenses primeiro analisam os dados de forma abrangente. Em seguida, realizam testes direcionados em uma amostra estratégica para aprofundar a análise antes de refinar e focar a investigação. Esse método otimiza o processo e garante que os testes sejam conduzidos com precisão e contexto.
A transformação do eDiscovery
O eDiscovery também passou por avanços significativos impulsionados pela tecnologia. O uso de análise avançada, inteligência artificial e aprendizado de máquina revolucionou a forma como informações eletrônicas são coletadas e analisadas para fins legais, permitindo uma identificação mais ágil e precisa de evidências relevantes para investigações de fraude.
No entanto, muitas empresas e seus advogados ainda resistem à adoção dessa tecnologia. Algumas acreditam, erroneamente, que a inteligência artificial pode encontrar todas as provas relevantes instantaneamente, enquanto outras desconfiam da capacidade humana diante do avanço tecnológico.
Nenhuma dessas abordagens extremas é ideal. O mais eficiente é combinar tecnologias avançadas com a experiência de investigadores forenses, mesmo em investigações menores. Além disso, o uso adequado dessas ferramentas exige expertise—seja internamente, seja por meio de consultores especializados.
Algumas empresas na América Latina já estão adotando essas inovações e colhendo os benefícios. Apesar de a tecnologia de eDiscovery existir há pelo menos duas décadas, a falta de conhecimento técnico, o ceticismo sobre sua eficácia e as limitações na disponibilidade de dados têm restringido seu uso, tornando investigações menos eficientes e, em alguns casos, impedindo a descoberta de insights e provas relevantes.
Os avanços tecnológicos, especialmente a iminente chegada da inteligência artificial generativa ao eDiscovery, geram preocupações sobre a complexidade dessas ferramentas e a confiabilidade das provas obtidas. Questões como privacidade e segurança de informações sensíveis também são motivo de atenção.
Ainda assim, os benefícios comprovados da tecnologia ao longo dos anos demonstram seu poder transformador na condução do eDiscovery com mais precisão, velocidade e eficiência. No entanto, esses avanços devem sempre ser acompanhados da expertise indispensável dos investigadores forenses.
O futuro: tecnologia e expertise trabalhando juntas
No combate à fraude, não é hora de abandonar os métodos tradicionais. O futuro está na fusão entre tecnologia e expertise humana. A análise de dados e o eDiscovery são ferramentas poderosas para revelar verdades ocultas e permitir uma prevenção mais proativa, enquanto os contadores forenses fornecem o mapa e a visão estratégica para navegar no complexo cenário financeiro. Juntos, formam uma equipe de investigação imbatível.